O local: A praia de Barreiros
A estação: O Inverno
O ano: 19... (o coração guarda o tempo, e não a data)
Dia nublado. Vento sul. O menino caminhava pela praia. Marolas, em intervalos ritmados, molhavam os seus pés. A praia deserta. A maré cheia. Duas ou três canoas fundeadas próximas à pedra “Faria”. O menino olhou o mar. Em seguida, o muro. E não viu a Ritinha. Não perdeu tempo. Seguiu. Abriu o rancho. E, sem usar as estivas, arrastou o barco pela areia da praia. Mais uma vez, procurou Ritinha junto ao muro. E não a viu. O menino voltou ao rancho. Pegou o mastro e a vela; o leme e a bolina – deixou o remo. E fechou o rancho. Olhou o barco. Olhou o mar. Pensamento sem dono. Teve vontade de desistir. Arrumou, porém, os apetrechos no pequeno barco de madeira. Não embarcou. Seguiu em direção ao muro. E se lembrou dos dias em que a Ritinha ficava olhando-o navegar. Nesses dias, ele deixava de ser menino – virava homem. Pequenos momentos de prazer... E Ritinha abanava pra ele, que sorria feliz. Ritinha: olhos negros, cabelos (também negros) longos e lisos, a pele morena. E o menino foi tomado por uma dúvida. Navegava porque gostava do mar ou apenas pra se exibir pra ela? Não sabia. O menino nascera ali; Ritinha surgiu depois, bem depois. E concluiu que o amor pelo mar e por Ritinha era um só. O mar e Ritinha, aliás, se complementavam – era a vida! E o menino se lembrou da primeira vez que tentou falar com ela. Um fiasco! Ele conseguira apenas andar ao lado de Ritinha. A voz não saia – tanto a dizer, e ele mudo. O coração do menino, é verdade, batia descompassado. O suor em suas mãos. E ela, estaria nervosa? O menino nada percebeu. A única certeza dele: estava feliz! Afinal, andara ao lado da mulher amada. E isso lhe era um prêmio. O menino se aproximou do muro. Recolheu uma pedra do chão. E procurou o cantinho em que rabiscara o seu amor. Escondido por algumas folhas, logo encontrou o seu nome e o de Ritinha dentro de um coração. E, com a pedra, apagou o que escrevera. Riscou o seu nome. Riscou o nome da mulher amada. Riscou, enfim, o seu amor. Pra sempre? Como saber? E procurou abafar o seu choro com as mãos. Temia que Ritinha visse o seu estado e o achasse um fraco. O menino estava magoado. Ritinha nunca lera a declaração que ele deixara gravada no muro. Agora, Ritinha tinha outro. Não soube esperar pelo amor do menino, que, pela primeira vez, se indagou: era amor? Não conseguiu responder. Reconhecia apenas que Ritinha não era feita do mesmo sonho. O menino ergueu-se. A pedra na mão direita. O vento sul havia cessado – sinal de que a chuva não demoraria a chegar. E um frio cortou a sua alma. Ele arremessou a pedra no mar. E ficou olhando o círculo que o impacto deixara n’água. A pedra afundara. O amor... O menino não quis pensar. Enxugou as lágrimas. Não olhou mais pro muro. E caminhou em direção ao barco. Embarcou. Abriu a vela, começou a navegar...
A estação: O Inverno
O ano: 19... (o coração guarda o tempo, e não a data)
Dia nublado. Vento sul. O menino caminhava pela praia. Marolas, em intervalos ritmados, molhavam os seus pés. A praia deserta. A maré cheia. Duas ou três canoas fundeadas próximas à pedra “Faria”. O menino olhou o mar. Em seguida, o muro. E não viu a Ritinha. Não perdeu tempo. Seguiu. Abriu o rancho. E, sem usar as estivas, arrastou o barco pela areia da praia. Mais uma vez, procurou Ritinha junto ao muro. E não a viu. O menino voltou ao rancho. Pegou o mastro e a vela; o leme e a bolina – deixou o remo. E fechou o rancho. Olhou o barco. Olhou o mar. Pensamento sem dono. Teve vontade de desistir. Arrumou, porém, os apetrechos no pequeno barco de madeira. Não embarcou. Seguiu em direção ao muro. E se lembrou dos dias em que a Ritinha ficava olhando-o navegar. Nesses dias, ele deixava de ser menino – virava homem. Pequenos momentos de prazer... E Ritinha abanava pra ele, que sorria feliz. Ritinha: olhos negros, cabelos (também negros) longos e lisos, a pele morena. E o menino foi tomado por uma dúvida. Navegava porque gostava do mar ou apenas pra se exibir pra ela? Não sabia. O menino nascera ali; Ritinha surgiu depois, bem depois. E concluiu que o amor pelo mar e por Ritinha era um só. O mar e Ritinha, aliás, se complementavam – era a vida! E o menino se lembrou da primeira vez que tentou falar com ela. Um fiasco! Ele conseguira apenas andar ao lado de Ritinha. A voz não saia – tanto a dizer, e ele mudo. O coração do menino, é verdade, batia descompassado. O suor em suas mãos. E ela, estaria nervosa? O menino nada percebeu. A única certeza dele: estava feliz! Afinal, andara ao lado da mulher amada. E isso lhe era um prêmio. O menino se aproximou do muro. Recolheu uma pedra do chão. E procurou o cantinho em que rabiscara o seu amor. Escondido por algumas folhas, logo encontrou o seu nome e o de Ritinha dentro de um coração. E, com a pedra, apagou o que escrevera. Riscou o seu nome. Riscou o nome da mulher amada. Riscou, enfim, o seu amor. Pra sempre? Como saber? E procurou abafar o seu choro com as mãos. Temia que Ritinha visse o seu estado e o achasse um fraco. O menino estava magoado. Ritinha nunca lera a declaração que ele deixara gravada no muro. Agora, Ritinha tinha outro. Não soube esperar pelo amor do menino, que, pela primeira vez, se indagou: era amor? Não conseguiu responder. Reconhecia apenas que Ritinha não era feita do mesmo sonho. O menino ergueu-se. A pedra na mão direita. O vento sul havia cessado – sinal de que a chuva não demoraria a chegar. E um frio cortou a sua alma. Ele arremessou a pedra no mar. E ficou olhando o círculo que o impacto deixara n’água. A pedra afundara. O amor... O menino não quis pensar. Enxugou as lágrimas. Não olhou mais pro muro. E caminhou em direção ao barco. Embarcou. Abriu a vela, começou a navegar...
Ah, coração de menino que deixei naufragar numa onda qualquer!
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