quinta-feira, 8 de março de 2012

Pedra a Pedra

Aqui, no mar de Barreiros, algumas pedras. A Faria. A Batata. A Gurita. Pedras da minha infância. Pedras da minha vida. Duras. Imóveis. Constantes. Pedras no caminho – para Drummond. Pedras para fazer um castelo – conforme Pessoa. Minhas pedras... Nem estorvo, nem castelo. Simplesmente pedras. Que me ensinaram a sentir o mar, o vento e a beleza de viver... Pedras não falam. Pedras encantam. Pedras viram bruxas – como diz o folclore Ilhéu. Pedras que não atirei na vidraça. Pedras que chutei quando criança – e papai não gostou (ralhou!). Pedras na memória. As pedras que me atiraram quando roubei aquela fruta – e que sabor doce ela tinha! Subir na pedra. Ancorar na pedra. Tirar marisco da pedra. Tirar ostra da pedra. Não titar leite de pedra. Uma educação pela pedra – como queria Cabral de Melo Neto. Uma dor – uma pedra? Pedra faz sangrar? Não é pedra. É ausência de esperança. Cantar a pedra. Desviar da pedra. Circundar a pedra. A pedra – um ponto de orientação no oceano. Pedra... É guia? É pedra. Coração de pedra. Não é gente. É pedra. É sozinha no mar. É sozinha na vida. O tempo. O sempre. A construção natural. Uma pedra tão desigual. Não flui. Não desagua. Estanque. Vê o avançar do tempo. Não muda. Silencia. Sem voz. Figura que o vento altera. Corpo inerte. Corpo incerto. Transmudando pelo tempo – sempre o mesmo, quase diferente. A ação do tempo – na pedra, sobre a pedra. Muda o rumo. Muda o destino. Mudanças-paradas-no-tempo. O tempo não é pedra. O tempo muda. A pedra não é mais a mesma. Ainda é pedra – é outra forma. A mesma essência. Outra aparência. A pedra é o sempre do ser.

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