sexta-feira, 16 de março de 2012

Roda Viva

Abriu a porta. Fechou a porta. Encaminhou-se ao elevador. Apertou o botão. Abriu a bolsa. Procurou o batom. Não o achou. Voltou. Abriu a porta. Fechou a porta. Entrou no banheiro. Pegou o batom; colocou-o na bolsa. Apagou a luz. Abriu a porta. Fechou a porta. Encaminhou-se ao elevador. Apertou o botão. Elevador enguiçado. Reclamou. Estava com pressa. Sete andares! Sem fôlego, chegou ao térreo. Abriu a porta. Fechou a porta. Chovia. Sem sombrinha. Reclamou. Aguardou. A chuva não dava trégua. As horas passavam. Pensou no encontro. Ele a esperaria? Ficou nervosa. Abriu a bolsa. Procurou o celular. Sem bateria. Guardou o telefone. Pegou o espelhinho. Retocou a maquiagem. Consultou o relógio. Pouco tempo. E saiu na chuva. Abriu o portão. Fechou o portão. A rua deserta. Sozinha. O relâmpago. O trovão. A rua quase escura. Não estava com medo. Apertou a bolsa contra o peito. Apertou o passo. E se protegeu sob a marquise. Um carro passou. Outro carro passou. Ele não vinha. Ela consultou o relógio. Ele estava atrasado. Ela tentou secar os cabelos. E sentiu frio. Um cachorro latiu. Uma mulher gritou. Ela se assustou. Quis sair correndo. Não saiu correndo. E se ele chegasse? E se ele não a encontrasse? Aguentou firme. Mais um carro passou. Outro cachorro latiu. A mesma mulher gritou. Ele não vinha.  Ela não pensava – o assalto, o estupro. Olhou pro relógio. Trinta minutos atrasado. Sempre foi assim. Ele nunca chegou no horário; nunca a respeitou. Acontecera algo? Como saber? A chuva cessara. Um automóvel parou. Um sujeito a chamou. Ela acertou o preço. O sujeito gostou; o sujeito gozou. Ficou satisfeito e foi embora. Ela parada. A mesma esquina. Ainda esperava. Quem? O seu homem – que há muito a abandonara. O movimento cessou. A chuva parou. E ele não veio. Amanhã, outro dia. Ela atravessou a rua. Abriu o portão. Fechou o portão. Entrou no elevador. Abriu a porta. Fechou a porta. Tirou a roupa. Tomou banho. Deitou-se na cama. Dormiu. Sonhou que ele voltara e a fazia feliz para sempre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário