sexta-feira, 30 de março de 2012

Arca de Salvação

Havia um Deus

I
Havia um Deus
Ente sem limites
Na minha infância;

Havia um Deus
E tudo era puro
Tudo em fantasia;

Havia um Deus
E sem me dar conta
Fui sendo dos outros;

Havia um Deus:
Na manhã da vida
Eram sem defeitos.

II
Nas folhas do rosto
O tempo é que assenta
O curso do dia
Com palavras plumes.

Chegado no agora
O feito cotejo
E sinto que sobram
Vontade e esperança.

III
O fogo que cuido
Aqui se alimenta
Aqui há tempero,
Vontade e esperança.


*******

Nada mais preciso

Nada mais preciso,
Neste meu precário
Efêmero reino,
Do que este silêncio
Que há no relógio
Do tempo irreverso;

Do que a solidão
Mais plena que tudo
Que há nestas paredes.

O meu mundo é agora,
Aqui e nunca mais.
Procuro sondar-me:
O desconhecido
Que há dentro de mim
É sempre tão vário
Ignoto diverso
Que fico perplexo
Tomado de espanto

Nada mais preciso
Que o mundo do verso:
Aqui me construo
A cada fonema

Zanon, Artêmio. Arca de Salvação: poemas. Florianópolis : Etnias, 2007.

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