quinta-feira, 8 de março de 2012

É chegado o tempo...



É chegado o tempo em que minhas palavras já não mais te despem. Que o meu o sorriso já não mais te acaricia. Que a minha língua já não mais te abraça. Que o meu corpo já não é mais prazer. Que as minhas mãos já não mais te guiam. Que minha boca já não mais te silencia. É chegado o tempo da distância, da separação, de buscar-se a si mesmo sem a presença do outro, de não mais partilhar – momentos, sonhos, desejos, coisas concretas do dia a dia. É chegado o tempo do final da dança, do último gole, do último toque, do último aceno. É chegado o tempo de horizontes abertos, de novas descobertas, de outras línguas na minha língua, de abraços e cansaços a desvendar. É chegado o tempo de dançar um ritmo estranho, de usar uma palavra inadequada, de errar e errar e errar. É chegado o tempo de construir novos sonhos, de iluminar as palavras, de desenhar novos corpos, de relembrar – o teu cabelo, a tua voz, o teu andar (antes tão meus). É chegado o tempo de fazer o vai e vem entre o novo e o passado – movimento cadenciado, como a força da maré – entre o ser no teu corpo e o ter no meu chão. É chegado o tempo de transmudar a dor em alegria, a lágrima em atitude, o adeus num novo encontro, a solidão necessária na certeza do abraço. É chegado o tempo, é chegado, é... Mesmo sem entender a (tua) fuga, o (teu) medo, as instabilidades do amor. Ah, metamorfose! Da minha veia na tua carne, do meu ser na tua razão, do meu corpo no teu próprio esquecimento. O Tempo. O pó.



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