sexta-feira, 9 de março de 2012

A Verdade

Diante da verdade
O homem negou a culpa
Diante de Deus
O homem não se reconheceu
Estremeceu
Ficou só
Calou-se
Esqueceu o presente
Lembrou-se de um tempo menino
Papel e lápis e borracha e compasso e esquadro
Desenhou o futuro
Mãos trêmulas
Olhar inseguro
Imaginação prenhe
Vontade de felicidade
Riscou o papel – apagou
Outro risco – desenhou uma criança
O sal das lágrimas
Umedeceu o papel
(de-pura-seda-branca)
De todas as cores – a vida
De todos os tons – o encontro
De todos os sons – o caminho
De todos os homens – a paz
Rasgou o papel
Desenho inútil – pensou
Perscrutou o horizonte
Nenhum sinal de vida
Oco existencial
Pedras! Pedras!
O mar...
É dos peixes?
É das gaivotas?
É dos homens?
Oceânica-comunidade
(partilhar é preciso)
O vento brinca com o mar
Águas em espasmos organóticos
O prazer sem culpa
Os corpos suados (lembrou-se)
Os pés molhados
A alma é breve
Outro papel
Outro traço – desenhou um sorriso
Engendrou a esperança
Coloriu o momento
Reinventou a imagem
Esquecida na memória
Do suave toque das mãos
Do terno carinho sentido
Da delicada canção de ninar
Rasgou o papel
Desenho inútil – pensou
Vasculhou o espaço
O céu é azul
O sonho humano é multicolor
E imaginou:
O movimento sincronizado dos astros
E ensaiou:
O movimento organizado dos pássaros
E gozou:
O movimento ritmado dos corpos
Nuvens! Nuvens!
Chuva que encharca a terra
Terra que fica grávida
Fruto que mata a fome
A miséria...
Estúpida invenção humana!
Homem-lobo-do-homem
Outro papel
Outro traço – tentou desenhar a voz
Parou – refletiu
Como esboçar o som?
E pensou que estivesse surdo
E bateu palmas
E gritou
Um cachorro latiu
Um pássaro voou
E abandonou o seu intento
O mesmo papel
Outro traço – desenhou um abraço
E rodopiou com a ciranda de rodas
As mãos da garota mais bela (lembrou-se)
E o embalo do sono daquela criança
(noites e mais noites etéreas!)
Transpôs o muro – a alegria do encontro
O corpo do pai – colo seguro
O abrigo longínquo carregado no peito
Rasgou o papel
Desenho inútil – pensou
Fechou os olhos
E o mundo caduco se dissolveu
E o palrar humano silenciou
Experenciou um corpo vivo
Vibrante! Vibrante!
Alegrias emergentes
Beleza convergente
Quiméricas explosões
Da matéria-prima-viva
E o éter envolveu su’alma
E a energia fluiu livremente
E o corpo/mente em sintonia divina
Homem-Deus-Homem-Deus (espiral ad eternum)
A vida gerada
O eterno recomeço
O sempre do sim
(?)
O homem
Desenhou um coração
Não rasgou o papel
E seguiu...

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