quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Da Existência

Existe apenas uma única coisa que vale a pena: viver bem e alegremente a própria vida - W. Reich.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

O Intervalo

Porque entre o sim e o não é só um sopro, entre o bom e o mau apenas um pensamento, entre a vida e a morte só um leve sacudir de panos - e a poeira do tempo, com todo o tempo que eu perdi, tudo recobre, tudo apaga, tudo torna simples e tão indiferente - Lya Luft

Sem Nome

No café da manhã, minhas certezas servem-se de dúvidas. E têm dias em que me sinto estrangeiro aqui ou em qualquer outro lugar. Nesses dias, dias sem sol, noites sem lua, nenhum lugar é o meu lugar e não consigo me reconhecer em nada, em ninguém. As palavras não se parecem aquilo que dão nome, e não se parecem nem mesmo ao seu próprio som. Então não estou onde estou. Deixo meu corpo e saio, para longe, para lugar nenhum, e não quero estar com ninguém, nem mesmo comigo, e não tenho, nem quero ter nome algum. Então perco a vontade de me chamar ou de ser chamado - Eduardo Galeano.

A Ilusão do Movimento

Eu sei que vou. Insisto na caminhada. O que não dá é pra ficar parado. Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. É maior porque é do bem. E nisso, sim, acredito até o fim. O destino da felicidade, me foi traçado no berço - Caio F Abreu.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Brumas

Depois, muito depois, foi que começou a dar conta de si, como se voltasse de um mundo de brumas, como se acordasse de um sono pesado, despovoado de sonhos - Autran Dourado. 

*Imagem sem tratamento.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Entendimento

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo - Clarice Lispector.

Bento ou Benedito?

(Como as coisas se passaram quando o papa foi eleito. Reencaminhado por pertinência do momento. Urda)

                                   Quando eu era criança, eu via que o Brasil era como era. Depois cresci e li Gilberto Freire e seu entusiasmo, e passei a crer que vivíamos, mesmo, numa democracia étnica. Daí cresci mais e vivi mais, e fui vendo que a coisa não era bem assim, e veio Darcy Ribeiro e outros me acenando com o outro lado da moeda, mas mesmo assim eu acho que não estava nada preparada para o ato explícito de racismo institucionalizado ao qual assisti nesta semana.
                                   Vejamos: eu liguei a televisão bem na horinha em que começou a sair uma primeira fumacinha lá na chaminé da capela Sistina, ainda fumaça tão tênue que não se definia a cor – e logo a fumaça ficou branca!  Era hora do Jornal “Hoje”, e a expressão “Habemus Papa” passou a estar na boca de todos, seguida da grande curiosidade: “Quem é, quem é?”. Então, nos trinta ou quarenta minutos seguintes as coisas se definiram: havia sido escolhido o alemão Joseph Ratzinger, e isto é assunto para outra discussão, e que discussão! Mas o que nos interessa, neste momento, é que quando se soube quem era o Papa, ele já havia escolhido seu nome de Papa, e o Jornal Hoje já estava devidamente calçado com a presença de um teólogo da USP, que clareava o que não se sabia.  Soube-se, então, que o nome que o Papa escolhera significava “Abençoado”, e o teólogo foi taxativo: tanto em italiano, quanto em português, “Abençoado” significava “Benedito”, ou “Bento”. Então não havia dúvidas: Habemus Papa Benedito, XVI, para se ser mais exato, pois outros 15 Beneditos já houvera.
                                   Por uns 30 minutos, no Brasil, tivemos o Papa Benedito XVI. O Jornal Hoje se estendia sem pressa, e o teólogo da USP explicava tudo que se queria saber, tintim-por-tintim, quando de repente, uma meia hora depois, o nome do Papa passou para Bento. Eu cá estranhei: aquilo tinha cheiro de racismo! Lembrei-me de São Benedito, santo preto muito popular no Brasil, padroeiro das gentes negras – será que uma coisa não estava tendo a ver com a outra? Passei uma mensagem para uma amiga antropóloga na Alemanha, grande conhecedora de Brasil, contando o que acontecia, e ela me respondeu: “Aqui ele é Benedikt. Eu acho que é racismo, sim!” Expus o caso para minha faxineira, que passava roupa e espiava a televisão ao mesmo tempo: “O que tu achas?” – Ela foi taxativa: “Bento fica melhor, tu não estás vendo? Benedito é nome di nego!” . Eram opiniões de áreas extremas: ia desde uma doutora em Antropologia até minha pouco alfabelizada faxineira, passando pela humilde escriba que sou. Telefonei para minha mãe e expus o caso – ela achava melhor não mexer com tais coisas. Então, só restava esperar. E esperei.
                                   Nas horas seguintes, nos dias seguintes, fui vendo que a exclusividade do nome Bento pertencia ao Brasil (e agora descobri que a Portugal também). Na língua espanhola o papa é Benedicto; na língua alemã é Benedikt – na verdade, não pesquisei em muitos países, pois já conheço um bocado este Brasil onde “Benedito é nome di nego”, e posso entender este racismo que assola a minha gente, sob a capa de uma democracia étnica. E Portugal, bem ... se um dia fomos no embalo de Portugal, penso que hoje Portugal muito nos copia – basta ver o gosto dos portugueses pelas nossas novelas!
                                   Taí o que queria falar. Se “Abençoado” , no Brasil, quer dizer Bento, e não Benedito, acho que São Benedito e nossos irmãos negros  têm muito a ver com a coisa. Se na nossa língua não se aceita ter um Papa Benedito, eu acho que tem a ver com o mais descarado racismo, sim. Gilberto Freire que me perdoe, mas a tal democracia étnica está fazendo água.

                                   Blumenau, 23 de abril de 2005.


                                               Urda Alice Klueger
                                               Escritora, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR

A Ilha

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Cais

Não é a toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei arduamente o meu! E como hoje busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido. O caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei de uma coisa; meu caminho não sou eu, é o outro, são os outros. Quando eu puder sentir plenamente o outro, estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada - Clarice Lispector. 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Incerteza

Vou te pedir que fique. Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que não haja nada duradouro prescrito pra gente. Esse é um pedido egoísta, porque na verdade eu sei que se nada der realmente certo, vou ficar sem chão. Mas por outro lado, posso te fazer feliz também. É um risco. Eu pulo, se você me der a mão - Caio Fernando Abreu.

Tempestade

Aos olhos nus, não passava de um chuva repentina, mas aqui dentro soava como uma tempestade -
Clarice Lispector.

Equilíbrio*

No misterio do sem-fim equilibra-se um planeta. E no planeta um jardim e no jardim um canteiro no canteiro uma violeta e sobre ela o dia inteiro entre o planeta e o sem-fim a asa de uma borboleta - Cecília Meireles.
*Da série Dom de Voar.

Nomes*

Muita coisa importante falta nome - Guimarães Rosa.
* Da série Nomes que Navegam.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A Distância

É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática - P. Freire. 

Erros

Passei a minha vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar. Ao tentar corrigir um erro, eu cometia outro. Sou uma culpada inocente - Clarice Lispector

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

TEMPOS CONTURBADOS 5

                                        Afinal!     

                                        Autoria: Urda Alice Klueger

                                        (Parte do livro "Meu cachorro Atahualpa, publicado em 2010)


          Era 30 de maio quando minha mãe faleceu, e eu me sentia tão cansada, tão estressada, que não sabia como é que a vida iria continuar. Havia muitos amigos e muitos primos me dando arrimo, mas não sei como teria sido sem o meu cachorrinho. Lembro-me como, no dia da missa de sétimo dia da minha mãe, minha querida Neide apareceu e ficou decididamente ao meu lado, me apoiando, e depois foi me fazer uma visita – meu apartamento estava bastante desarrumado, eu diria que quase caótico, mas aquilo já não me importava muito – eu estava em estado de despedida dele.                                   
        Junho passou-se inteiro sem que os negócios se decidissem. Andava muito ocupada resolvendo os problemas de papéis, contas, etc., que acontecem depois do falecimento de uma pessoa, mas o tempo todo muito ansiosa pela minha casinha que ainda não tinha sido vendida, torcendo para que ninguém a comprasse antes de mim, e tendo longas conversas com Atahualpa de como seria nossa vida nela, continuando a prometer-lhe uma casinha com seu próprio jardim e, solidário, meu cachorrinho parecia entender tudo, e me acarinhava e me lambia quando eu chorava de exaustão, e depois brincava comigo pela casa toda, correndo atrás de uma bola ou do pano velho que eu arrastava, e eu sempre tirava tempo para que fizéssemos longas caminhadas pelas ruas que imaginava livres de cobras venenosas, e dormíamos e acordávamos juntos, e o mês era frio, chuvoso e triste, e teria sido muito mais difícil sem Atahualpa.                                  
        Em julho, Atahualpa e eu tiramos uma semana de férias e fomos passá-la no Pouso e Poesia (WWW.sambaqui.com.br/pousodapoesia), pousada do meu amigo Raul Longo e da Ida, lá na praia do Sambaqui, em Florianópolis.  Era a terceira vez que Atahualpa via o mar (já o vira na Praia de Estaleiro e em Porto Belo), só que dessa vez ele tinha uma companhia canina: a Canela, cachorrona extremamente livre do meu amigo Raul.                                  
       Até chegar lá, eu não sabia que estava tão cansada – desmoronei ao pisar no Pouso e Poesia. Acabou sendo uma semana idílica, onde Atahualpa, Canela e eu fazíamos longos passeios à beira mar pelas manhãs, dormíamos nas tardes e eu fiz todas as refeições no bar do seu Antônio, comendo sempre tainha frita com pirão branco ou dúzias de ostras que viviam num engradado dentro do mar, sob o restaurante, e que o seu Antônio recolhia com a ajuda de uma corda, a cada vez em que alguém pedia ostras frescas.                                  
      Fazia tanto tempo que não escrevia algo que não fosse triste e angustiante que havia perdido o jeito, mas conforme os dias iam passando, criei umas poucas crônicas que o Raul achou ótimas, mas que eu sabia que não estavam nada boas. Como sempre, Atahualpa e eu dormíamos um perto do outro, no mesmo apartamento, e depois do sono das tardes, íamos de novo passear na praia. Há muitas coisas para contar daqueles dias e daqueles passeios com Canela – renderão, com certeza, muitas crônicas futuras. O que não saía da minha cabeça, no entanto, era a promessa que continuava fazendo ao meu cachorro, de que iríamos ter uma casinha com jardinzinho para ele, e torcia com todas as forças para que os negócios imobiliários, em Blumenau, se concretizassem enquanto estávamos fora.                                  
      Mais rápido do que parecia, a semana se passou e voltamos – para descobrir que continuávamos na mesma situação. Dias depois, no entanto, os negócios aconteceram, e houve um domingo à tarde em que juntei todos os grandes lençóis e colchas que tinha, e tirei todas as roupas dos armários fazendo com elas grandes trouxas, pois íamos nos mudar. Para um cachorrinho que vivera naquele apartamento desde que se lembrava, e o sabia de certa forma, aquelas alterações deveriam estar parecendo o caos, e Atahualpa farejava as grandes trouxas angustiadamente, me olhando de esguelha como quem pergunta:                                  
       - Nossa vida virou de cabeça para baixo de novo? O que está acontecendo?                                  
      O que estava acontecendo ele não entendera bem quando eu explicara: na noite do dia em que eu assinara a documentação da venda do apartamento e da compra da casa, enquanto voltávamos para casa na escuridão fria e chuvosa de julho, eu contara tudo direitinho a ele:                                  
       - Atahualpa, nunca mais, nunca mais vamos ter que viver naquele lugar horrendo! Nunca mais vamos ver aquelas casas que ainda não despencaram do morro, nem ter medo de passar na rua em dia de chuva, temendo que elas venham a cair sobre a gente! Nunca mais vamos ter medo de que o nosso prédio venha a ser abalado por aquela casa que pode vir a cair a qualquer momento! Vamos para o paraíso, e vais ter teu jardinzinho e a tua varanda, e vamos ser felizes – e eu chorava muito e muito de tanta dor incontida, enquanto lhe explicava tais coisas, pois mesmo para mim parecia estar vivendo uma irrealidade, que coisas tão boas não poderiam estar acontecendo realmente, de tão boas que eram. Era um choro de grande alívio, de mágoas acumuladas, de angústias somadas e de felicidade ao mesmo tempo. Atahualpa se aconchegou a mim e apertou minha perna com o seu queixo, tentando me consolar, mas não deve ter entendido tudo, pois estava bastante inseguro e surpreso com aquelas grandes trouxas amontoadas na sala daquele apartamento que, de repente, ficava de cabeça para baixo.                                   
        Na manhã seguinte, tão logo os homens da mudança chegaram, levando poucas coisas numa mala e numa sacola, eu e ele nos mudamos, de novo, para aquele depósito de livros onde passáramos o verão, esperando uns poucos dias até que nossa mudança fosse ajeitada.                                  
        E a 31 de julho de 2009, enfim, pegamos nossas poucas bagagens e nos mudamos definitivamente para nossa casinha nova. Era tempo de sermos felizes!


"Eu me dei conta de que cada vez que um dos meus cachorros parte, ele leva um pedaço do meu coração com ele. Cada vez que um cachorro novo entra na minha vida, ele me abençoa com um pedaço de seu coração. Se eu viver uma vida bem longa, com sorte, todas as partes do meu coração serão de cachorro, então eu me tornarei tão generoso e cheio de amor como eles."  (Autor desconhecido)

A Linha

Às vezes escrever uma só linha basta para salvar o próprio coração - Clarice Lispector