terça-feira, 7 de maio de 2013

o teu destino

vai até ao fundo
procura os porquês
... tu és a eterna questão
sê a pergunta
exige a resposta

não cales
não consintas
não aceites
não desistas
não deixes de ser

provoca a onda
quebra o silêncio
ergue-te ergue
provoca convoca
não és só mais um
exige a resposta

serenas são as águas
onde o espelho
se recria e a gaivota

olha-os e parte
que é diverso o teu destino
 
* Foto e Texto, António Cravo - Portugal.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

A Bagunça


A BAGUNÇA TODA... QUEM SABE

Subi seis lances de escada
até meu pequeno quarto mobiliado
abri a janela
e comecei a jogar fora
as tais coisas mais importantes na vida

Primeiro, a Verdade, ganindo como um dedo-duro:
“Não! Direi coisas terríveis de você!”
“Ah, é? Não tenho nada a esconder... FORA!”
Depois, Deus, assombrado, corado e choroso de espanto:
“Não é culpa minha! Não sou a causa de tudo isso!” “FORA!”
Depois o Amor, aliciando subornos: “Você não conhecerá a impotência!
As garotas da capa da Vogue, todas suas!”
Apertei sua bunda gorda e gritei:
“Seu destino é um desvalido!”
Peguei a Fé, a Esperança e a Caridade
as três juntas abraçadas:
“Você não vai sobreviver sem nós!”
“Estou pirando com vocês! Tchau!”

Depois a Beleza... Ah, a Beleza –
Tão logo a levei até a janela
disse: “Você eu amei mais na vida
... mas é uma assassina; a Beleza mata!”
Sem querer realmente atirá-la
desci correndo as escadas
chegando a tempo de apanhá-la
“Você me salvou!” sussurrou
Coloquei-a no chão e disse: “Anda.”

Subi de volta as escadas
procurei o dinheiro
não havia dinheiro pra jogar fora.
Só restava a Morte no quarto
escondida atrás da pia da cozinha:
“Não sou real!” gritou
“Não passo de um rumor espalhado pela vida...”
Atirei-a fora com a pia e tudo, sorrindo
e então notei que o Humor
era tudo que havia restado –
Tudo que pude fazer com o Humor foi dizer:
“A janela fora com a janela!”

poema: Gregory Corso
tradução: Márcio Simões

The Birds


The birds flew around for nothing but the hell of it - in "An Expensive Place to Die", de Len Deighton.

A Recusa



António Cravo - Portugal

Fabricamos o tempo
o nosso tempo
com a música dos gestos
suspensos
no exacto instante em que
vindos do silêncio onde habitavam
... nos cercearam as vozes

somos ainda o haver amanhã
um dia de sol aberto a todos
não o impossível sonhado
mas o real a que estamos condenados
pelo facto de sermos

estamos
ali onde palavra e gesto se confundem
não temos medos nem donos
mais muitos mais
crescemos a cada dia

somos a afirmação da recusa

PS: Palavras que tocam devem ser partilhadas, sempre. Valeu, Cravo.