
A violência dos homens aparece todos os dias nos jornais
Corpos violados
Vidros estilhaçados
Crianças com fome e frio e sede
Bombas e atentados
Engulo tragédias no café da manhã
Almoço com os olhos pregados na TV
Que fala do cigarro que devo tragar
Da bebida que devo tomar
Do carro que devo ter
Da festa que devo ir
Do engarrafamento na estrada que eu não quero passar
Da previsão do tempo
Que não é mais a minha estação
Não sou mais EU?
Vidas pesadas
Ombros caídos
Seios partidos
Peles enrugadas e flácidas
Cabeça baixa na cadência do dia
O ônibus lotado
A fila no supermercado
A fila em busca de um leito no hospital (a agonia da morte)
O preço da cura é alto
Qual o preço da vida?
A dor – miséria existencial
O (meu) grito
O (teu) silêncio
O (nosso) olhar - desesperado
Sobre a realidade da urbe
(labirinto humano quase sem alma)
Vontade de sentar no banco de alguma praça
Debaixo de uma árvore frondosa
Fechar os olhos e sentir o corpo vibrar
E sentir o sabor do vento
E relembrar o sabor da tua carne
Ah! Tempo perdido em busca do nunca
Procuro-me incessantemente
Como se remasse contra a maré
O chegar
O partir
A travessia
O eterno recomeço
Sou quas’eu
Sou quase Sísifo
Carrego a pedra
A pedra rola
Montanha abaixo
Ah! Maldito o tempo
Em que não carrego a pedra – o ócio
É quando mais sinto o peso:
Da vida
Do corpo
Da dúvida
A esperança calada
Os passos cansados
Talvez fosse aquela palavra
Talvez fosse aquele imagem
Talvez fosse apenas o silêncio
De um corpo embriagado
Ah! Se eu conseguisse
Esquecer o que aprendi
E aprender novos horizontes
Limites – sou um homem acorrentado
E, às vezes, acho que sou mau
E, às vezes, finjo viver
O meu próprio tempo
Noutros momentos
Estendo a mão
Abraço
Acaricio
Reconheço o semelhante em mim
O outro tem rosto
Uma quimera
O outro tem nome
Uma separação
Olhos (cegos) iguais
Mentes irrequietas
Vontades obscuras
O real é concreto e gélido
No outro de mim
Ouço uma mulher
Carne
Desejo
Lábios
Seios
Mãos e carícias
Corpos suados
Pele roçando a pele
(quase uma luta)
O peito descompassado
Toque
(suave toque)
Perdi a noção do tempo
E os meus olhos se abrem
E não há ninguém ao meu lado
Ergo-me (do chão)
Abro a janela
Vasculho a rua (quase) deserta
Um homem compra o jornal
As notícias de ontem
Preenchem o vazio do dia de hoje
Uma mulher acena da janela
Um cão faz xixi num poste
O vento carrega uma folha que caiu durante a madrugada
Mendigos ocupam uma casa abandonada
Cadência humana execrável – o cotidiano
Fecho a janela
E o mundo se esconde em mim
Tenho fome de vida
Quero o calor
o sabor
o saber
Um grito oco dentro
Do coração dos homens
Um grito cego
Que mancha de sangue o asfalto
Que piso e repiso
Quero cortar o caminho
E amputar essa dor
O atalho
É uma linha reta
A morte
É uma curva na estrada
Quero cuspir palavras lancinantes
E guardar na memória
As palavras insensatas
Que não tenho coragem de dizer
E o vento toca o meu corpo
E minha língua
Roça a tua nuca
E teu sorriso me cura
De um medo quase doentio
É outro dia
O mesmo homem
É outra noite
A mesma mulher
Vozes vazias
Vazante da maré
O vai e vem das ondas
Em mim
Em nós
E essa vontade
De não descobrir a saída
Estou preso
As grades me ferem
Procuro a chave
Deixei-a sobre a mesinha de cabeceira
Onde me encontro?
Onde te esqueço?
O homem nu
A mulher nua
As máscaras caídas diante do espelho
Ah, coração vazio!
A tua batida não mais preenche o Amor
E o vento balança a cortina
(Parece que vai chover)
E a noite vem chegando
Tenho medo do escuro e da luz
Tenho medo do que não conheço
Tenho medo de não conseguir dormir
Tantos medos
Tantas desilusões
Tantos sonhos ainda guardados no fundo do baú
(o fundo é o passado)
A casa era antiga
Mas havia um jardim
um canteiro de morangos
um pé imenso de eucalipto
um cachorro preso na coleira
Corpos violados
Vidros estilhaçados
Crianças com fome e frio e sede
Bombas e atentados
Engulo tragédias no café da manhã
Almoço com os olhos pregados na TV
Que fala do cigarro que devo tragar
Da bebida que devo tomar
Do carro que devo ter
Da festa que devo ir
Do engarrafamento na estrada que eu não quero passar
Da previsão do tempo
Que não é mais a minha estação
Não sou mais EU?
Vidas pesadas
Ombros caídos
Seios partidos
Peles enrugadas e flácidas
Cabeça baixa na cadência do dia
O ônibus lotado
A fila no supermercado
A fila em busca de um leito no hospital (a agonia da morte)
O preço da cura é alto
Qual o preço da vida?
A dor – miséria existencial
O (meu) grito
O (teu) silêncio
O (nosso) olhar - desesperado
Sobre a realidade da urbe
(labirinto humano quase sem alma)
Vontade de sentar no banco de alguma praça
Debaixo de uma árvore frondosa
Fechar os olhos e sentir o corpo vibrar
E sentir o sabor do vento
E relembrar o sabor da tua carne
Ah! Tempo perdido em busca do nunca
Procuro-me incessantemente
Como se remasse contra a maré
O chegar
O partir
A travessia
O eterno recomeço
Sou quas’eu
Sou quase Sísifo
Carrego a pedra
A pedra rola
Montanha abaixo
Ah! Maldito o tempo
Em que não carrego a pedra – o ócio
É quando mais sinto o peso:
Da vida
Do corpo
Da dúvida
A esperança calada
Os passos cansados
Talvez fosse aquela palavra
Talvez fosse aquele imagem
Talvez fosse apenas o silêncio
De um corpo embriagado
Ah! Se eu conseguisse
Esquecer o que aprendi
E aprender novos horizontes
Limites – sou um homem acorrentado
E, às vezes, acho que sou mau
E, às vezes, finjo viver
O meu próprio tempo
Noutros momentos
Estendo a mão
Abraço
Acaricio
Reconheço o semelhante em mim
O outro tem rosto
Uma quimera
O outro tem nome
Uma separação
Olhos (cegos) iguais
Mentes irrequietas
Vontades obscuras
O real é concreto e gélido
No outro de mim
Ouço uma mulher
Carne
Desejo
Lábios
Seios
Mãos e carícias
Corpos suados
Pele roçando a pele
(quase uma luta)
O peito descompassado
Toque
(suave toque)
Perdi a noção do tempo
E os meus olhos se abrem
E não há ninguém ao meu lado
Ergo-me (do chão)
Abro a janela
Vasculho a rua (quase) deserta
Um homem compra o jornal
As notícias de ontem
Preenchem o vazio do dia de hoje
Uma mulher acena da janela
Um cão faz xixi num poste
O vento carrega uma folha que caiu durante a madrugada
Mendigos ocupam uma casa abandonada
Cadência humana execrável – o cotidiano
Fecho a janela
E o mundo se esconde em mim
Tenho fome de vida
Quero o calor
o sabor
o saber
Um grito oco dentro
Do coração dos homens
Um grito cego
Que mancha de sangue o asfalto
Que piso e repiso
Quero cortar o caminho
E amputar essa dor
O atalho
É uma linha reta
A morte
É uma curva na estrada
Quero cuspir palavras lancinantes
E guardar na memória
As palavras insensatas
Que não tenho coragem de dizer
E o vento toca o meu corpo
E minha língua
Roça a tua nuca
E teu sorriso me cura
De um medo quase doentio
É outro dia
O mesmo homem
É outra noite
A mesma mulher
Vozes vazias
Vazante da maré
O vai e vem das ondas
Em mim
Em nós
E essa vontade
De não descobrir a saída
Estou preso
As grades me ferem
Procuro a chave
Deixei-a sobre a mesinha de cabeceira
Onde me encontro?
Onde te esqueço?
O homem nu
A mulher nua
As máscaras caídas diante do espelho
Ah, coração vazio!
A tua batida não mais preenche o Amor
E o vento balança a cortina
(Parece que vai chover)
E a noite vem chegando
Tenho medo do escuro e da luz
Tenho medo do que não conheço
Tenho medo de não conseguir dormir
Tantos medos
Tantas desilusões
Tantos sonhos ainda guardados no fundo do baú
(o fundo é o passado)
A casa era antiga
Mas havia um jardim
um canteiro de morangos
um pé imenso de eucalipto
um cachorro preso na coleira
Havia uma mulher que andava com os pés descalços
Havia uma mulher que me mostrou a simplicidade da vida
Havia uma mulher que me revelou o prazer do trabalho bem feito
Derrubaram a casa de madeira
Cortaram o pé de eucalipto
A mulher morreu
O vento, hoje, balança uma saudade
E a distância ocupa o lugar da meta
E o sonho habita um lugar sombrio
Tanto tempo tanto
O pretérito de uma revolta
O agora da resignação
Ocupa os espaços como erva daninha
Já não mais consigo podá-la
Perdi a coragem
E aceitei a sina
E aceitei a minha condição
Acostumei-me com o lugar à mesa
E isso não mais me aflige
Quero vomitar as coisas que me torturam
E que agoniam o peito
E a espera foi longa
E retarda o encontro
Não tenho rosto
Ou um nome sequer
Sou um anônimo
No meio das pessoas
No meio da rua
Meio
Metade
Mediano
A vileza da média
Galerias tortuosas
Caminhos sinuosos
Tudo é cansaço em mim
Quero adormecer
Não consigo
Quero a suavidade da voz
Que não consigo ouvir
Quero a tua mão em meu corpo
Tanto querer
Tanto querer
Minhas palavras amaduradas
Fazem um barulho ensurdecedor
Quando caem na (ausência de) rima
Atravesso a rua
E piso na grama
(a placa diz que é proibido)
E o vento desmancha a frágil planta
Um pólen desprende-se
E fecunda a flor
(Leve e branca)
E reconstrói a vida
Em mim
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