Por Elaine Tavares - Jornalista
Jurara nunca mais beber. Não queria
mais o mundo girando, girando, a boca solta, os pés trôpegos, a mente em voo
livre. Haveria de ficar no chão. Desde pequena lhe diziam que andar pelo caminho
das estrelas era coisa de louco. Ela tentara fugir. Não conseguira. Aos sete
anos vira seu primeiro disco voador. Ninguém acreditara. Mas, na noite escura,
lá estava ele. E mesmo quando no entardecer de um quente verão, quando todos
viram aquele grande charuto cheio de janelas passando devagar, insistiram em
negar. Ela ficara sozinha, olhando a coisa sumir no horizonte, rezando para que
dali saísse um raio de luz e a levasse para sabe-se lá onde.
Sumida entre livros de Asimov e
revistas que falavam sobre UFOS ela passou a infância e a adolescência. Eram
seus amigos mais leais. Perry Rodan e suas peripécias, capitão Kirk, Spock, as
mais incríveis criaturas dos planetas mais distantes. Eram suas redes a embalar
a solidão e a incompreensão para as coisas do mundo “normal”. Mas, nesse mundo
secreto não havia tristezas. Só esperanças de que um dia o mundo pudesse ser, de
fato, habitável aos seres sensíveis capazes de falar com e ouvir estrelas, tal
como dizia Bilac.
O tempo passou, a guria cresceu, o
disco não veio, o mundo estragou. Tempos de rede não se prestam a solidões. Os
edifícios escondem o céu, as estrelas sumiram, não falam mais. As palavras
desconexas que reverberam na cabeça ninguém mais sabe dizer de onde vem. “Essa
aí nunca foi normal”, dizem as vizinhas. E ela sorri, agradecida. Nunca quisera
a normalidade de um mundo em escombros.
O cabelo embranqueceu, mas as velhas
revistas seguem na cabeceira. As aventuras de Rodan para salvar a Terra ainda
povoam seu mundo de teias de aranha. Quando é de noite, e todos dormem, ela sai
pela rua a quebrar lâmpadas – única forma de ver o céu numa cidade feérica. Até
ontem a acompanhava um garrafa de vodka, da boa. Por algum motivo desconhecido
ela se acercara mais do que a pinga local. Talvez pela sonoridade. VOD-KA.
Palavra doida, estranha, sensual.
Mas agora decidira. Por todos os deuses
do Tahuantinsuyo. Não mais emborcaria o líquido quente e queimador. Haveria de
saltitar pela rua como sempre fizera, mas o faria de cara. Já não tinha mais
medo de não ser normal. Tomaria, como Raul, todos os banhos de chapéu. E falaria
com os sleestaks, os vulcanos, encontraria mestre Ioda, voaria na Milenium
Falcon. Cometeria todas as loucuras. Quem nesse mundo pode se arvorar em dizer o
que é certo? Como podem impedir um ser de ouvir estrelas e dançar nas estradas
de areia?
Nessa manhã ninguém estranhou quando
ela saiu feito uma guerreira klingon, toda pintada. Deixara a casa arrumada,
ajeitara o quintal. Na rua adormecida, jamais se poderia supor o caminho
empreendido. Subiu devagar o morro do lampião, piou com os passarinhos, grunhiu
com os bugios. Tomou banho de cachoeira e se deitou nua na relva verdinha.
Decidiu esperar pelo raio. E ele veio, ao fim da tarde, quando as formigas já
faziam caminho pelo corpo branquinho. Contam que ela foi levada por algum disco
voador, e é bem possível. Nunca mais foi vista. O certo é que lá para os lados
do lampião, há uma estranha árvore, com formas de mulher, que parece sorrir. Tem
gente que jura que é ela e que em noites de lua clara, as bruxas cantam e dançam
no lugar. Outros há que juram vê-la nas noites escurar a quebrar as lâmpadas,
cantando canções sertanejas. Vai saber!...
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Salve, Elaine!
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