Sob o Céu de Barreiros
domingo, 8 de janeiro de 2017
BARREIROS
Distrito de São José da Terra Firme/SC.
27º36’55 de latitude
48º37’39 de longitude
FALSO COTIDIANO narra a história de Filipe Avelar, um sujeito mediano, que, num determinado dia de outono, revisita a sua vida.
Ser um arqueólogo de sua própria existência. Escavar-se. Revolver as pedras. Reinterpretar-se. Fazer-se outro. Se algum homem tiver a ousadia de arrancar as suas vestes, e mergulhar naquilo que costumamos chamar de essência humana, este homem não achará apenas a sua verdade, mas encontrará a face de Deus – um homem em si e para si mesmo.
sábado, 12 de abril de 2014
O
escritor Marcos Meira está lançando um novo romance, “Sonhos de Pano”. Ambientado
em Barreiros, São José/SC, o livro está dividido em quatro partes – Ensaio, Quimera, Pesadelo e Redenção –, que representam as fases de
desenvolvimento do lírico Lucas, protagonista da trama.
Por
entender que o ser humano é movido pelas emoções, e não pelas amarras
racionais, Meira, no início do livro, adverte: “Que o leitor não espere de
Lucas uma conduta estereotipada. Nada disso. Lucas poderá adotar um comportamento
considerado adulto em tenra idade, assim como poderá parecer infantil num
momento em que esperaríamos dele uma resposta madura. Tal personalidade de modo
algum o faz um idiota. Ao contrário. Por não viver de maneira linear, Lucas
torna-se essencialmente humano, isto é, um ser que respeita a sua própria
natureza”.
Com “Sonhos de Pano”, Meira pretende mostrar as
dificuldades que enfrentam aqueles que se dispõem a seguir o seu próprio
caminho, já que, na peleja entre o “Eu” primitivo e o meio social, os
homens acabam, normalmente, perdendo o melhor da vida: a diversidade humana;
abafando o melhor de si mesmos: o talento.
Em
virtude de sua natureza ingênua, Lucas não é compreendido pelo austero e
soturno pai, nem pelos moradores de Barreiros, e muito menos por Jaqueline – a
sua secreta namoradinha. Ante tamanha adversidade existencial, Lucas encontra nos
sonhos e na figura libertária do avô a alegria que a realidade lhe nega (*).
(*) O livro, segundo a gráfica, estará à disposição logo após o feriado de Páscoa.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
O Espelho
O Espelho
Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília
Meireles.
No centro da
cidade, um homem chafurda na lixeira. Mexe e remexe o lixo – a procura. De quê?
Um homem na lixeira. Não é homem. É bicho. Quase um rato. As mãos nuas. Os pés
nus. O corpo sujo. A alma ainda é cândida? O homem olha em volta. Cidade vazia.
Noite de Natal. O homem está só – sempre esteve só. Não quer pensar na solidão.
Volta ao seu mundo – o lixo. O tempo passa. A vida mingua. O homem tem sede e fome.
Quer um cigarro. Mas não tem cigarro. Quer uma cachaça. Mas não tem cachaça. Há
apenas lixo. Onde os homens? Em casa – a família, o jantar, a troca de
presentes... A vida não é supérflua. O homem sente dor – corpo maltratado. Não
desiste. Procurar é preciso. A vida? Amputada – riso triste. No meio do lixo, o
homem. No centro do homem, Deus? O homem continua a sua saga – a fatalidade? Quase
desiste. Não desiste. Vasculha. Eterna busca – a vida. No meio do lixo, um
espelho. O seu presente de Natal? O homem sorri – quase vira criança. Pensa em
gritar – a felicidade. Mas não grita – a voz oca. O homem abandona a lixeira.
Olha em volta. Prédios, muitos prédios. Pessoas felizes? Senta-se no meio-fio. Limpa
o espelho – quase um carinho. O homem é doce. Onde a desigualdade social? Quer
se olhar no espelho. Reluta. Treme. Cadê a coragem? Ajeita o cabelo. Alisa a
barba. Cospe no chão. Olha-se no espelho. O reflexo – a consciência de si. Quase
não se reconhece. É o que vê – a essência? Ou é o que os outros veem – a aparência?
O homem desvia o olhar. E o que mira? A cidade morta. Almas mortas. Luzes
acesas – o Natal. Volta a se olhar no espelho. E o que vê? Uma criança. Uma
árvore de Natal. Uma família. Presentes pobres... Seu olhar preso ao espelho –
o passado. Lágrimas e risos – o delírio. Baixa a cabeça – pensamento vagabundo.
Pediu uma moedinha. A mulher não deu. Pediu pra lavar o carro. O homem não
deixou. O roubo – única opção? O homem escolhe – o destino. Passeia os olhos
pela noite. Ruas desertas. Cidade solitária. O homem teme o sonho – a vida? Volta
a se olhar no espelho. E não vê a criança refletida. E não vê o homem
refletido. Não mais existe? A realidade é nebulosa. O homem quebra o espelho –
a fúria. Estilhaços de uma vida. Cacos perdidos na calçada. Ergue-se. Leva o
saco às costas. Esboça um sorriso. Não parece o Papai Noel? O homem caminha –
passos tontos. Onde a saída? O homem atravessa a rua. Senta-se no banco da
praça. O relógio da igreja – meia-noite. Os sinos badalam. Uma pessoa passa.
Outra pessoa passa... O homem chora. E ninguém lhe deseja feliz Natal.
Às crianças, bom Natal!
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Era uma vez...
era uma vez um rapaz ....
depois, depois cresceu e diminuiu
que diria dele hoje o jovem de ontem?
António Cravo - Portugal
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Partir
António Cravo, Portugal.
partir, álvaro
partir sempre que destino
haverá onde
... uma praia um areal imenso
partir sem saber
um cais não é casa
é porta aberta
e eu vou sair
carta, álvaro
nem de prego quero
rotas muitas
destinos tantos
mar por todo o lado
isso sim
partir, álvaro
pura e simplesmente
partir
soltar amarras e
o que for
não há-de vir
um homem só morre
quando desistir
(praia de mira; barco de mar s.josé; companha do zé monteiro)
terça-feira, 11 de junho de 2013
De mim
palavra a palavra
caminho
sem outro desígnio
que passar
pudesse ouvir-me
o vento
seria demasiado
o ousar
A. Cravo - Portugal.
terça-feira, 7 de maio de 2013
o teu destino
vai até ao fundo
procura os porquês
... tu és a eterna questão
sê a pergunta
exige a resposta
não cales
não consintas
não aceites
não desistas
não deixes de ser
provoca a onda
quebra o silêncio
ergue-te ergue
provoca convoca
não és só mais um
exige a resposta
serenas são as águas
onde o espelho
se recria e a gaivota
olha-os e parte
que é diverso o teu destino
procura os porquês
... tu és a eterna questão
sê a pergunta
exige a resposta
não cales
não consintas
não aceites
não desistas
não deixes de ser
provoca a onda
quebra o silêncio
ergue-te ergue
provoca convoca
não és só mais um
exige a resposta
serenas são as águas
onde o espelho
se recria e a gaivota
olha-os e parte
que é diverso o teu destino
* Foto e Texto, António Cravo - Portugal.
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