PERSONAGENS
Fotógrafo
Pescador I
Pescador II
Barreiros – Inverno de 2009.
(Praia de Barreiros. Sol da manhã. Vento nordeste. Barcos, redes, estivas, remos...)
Dois pescadores reparam uma pequena embarcação.
FOTÓGRAFO
- Oba! O que houve com o barco?
PESCADOR 1
- O vento arrastou o barco pra cima das pedra. Pouca coisa. Já, já, fica novo. O que tu tá fazendo aqui?
FOTÓGRAFO
- Aproveitando a manhã ensolarada pra tirar algumas fotos.
PESCADOR 2
- É pro jornal?
FOTÓGRAFO (rindo)
- Não, não. É pra mim mesmo.
PESCADOR 2
- Aqui, dá de tudo, até fotógrafo. Só não dá peixe.
PESCADOR 1
- É. Cada um com o seu prazer. A gente na pesca – um peixinho hoje, outro amanhã – e a vida vai andando.
FOTÓGRAFO
- É bom. É bom. Tô registrando o que me chama mais a atenção.
PESCADOR 1
- Tu pode tirá umas foto da praia? Assim, do rancho, das canoa, das rede...
FOTÓGRAFO
- Claro que posso! Mas, pra quê?
PESCADOR 1
- É pra modo da gente vê se o prefeito manda fazê um trapiche pra gente.
FOTÓGRAFO
- Um trapiche?
PESCADOR 2
- Esses político só sabem fazê promessa...
PESCADOR 1 (sem dar trela ao outro pescador)
- É. Tira umas foto da praia. Da distância do rancho até o mar. Amostra como é difícili chegá até o barco fundeado quando a maré tá seca.
PESCADOR 2
- É essa poluição. O mar fica até cheirando mal.
FOTÓGRAFO
- Não faz muito tempo, eu tomava banho nessas águas, mas hoje...
PESCADOR 1
- Nós já chamamo as autoridade. Chegamo a fazê um caldo de peixe aqui na praia com os candidato à prefeitura. Foi uma boniteza de festa!
PESCADOR 2
- Depois das eleição eles desapareceram. Não vieram mais sabê como é que nós ficamo.
PESCADOR 1
- Já falei com alguns vereadô. E eles me pediram pra fazê um processo. Por isso, preciso das foto.
O fotógrafo tira algumas fotos.
FOTÓGRAFO (mostrando as fotos no visor da máquina)
- Tão boas, assim?
PESCADOR 1
- Máquina boa, hem? Credo! Eu ia tirar com a minha, mas não ia ficar com a mesma qualidade.
PESCADOR 2
- Esses político... Nem vão olhar pras foto.
FOTÓGRAFO
- Eu vou mandar revelar. Depois eu entrego as cópias.
PESCADOR 1
- Quanto custou o trabalho das fotografia?
FOTÓGRAFO
- Não é nada, não. É um prazer ajudar.
PESCADOR 1
- Espera um pouco.
(o pescador entra no rancho e volta com uma sacola na mão direita)
PESCADOR 1
- Toma. Dá pra fazê um ensopado.
FOTÓGRAFO (abrindo a sacola)
- Peixe! Obrigado. Não precisava nada, não. Depois eu mando as cópias das fotos.
PESCADOR 1
- Nós é que agradecemo.
(O fotógrafo afasta-se. Enquanto caminha, pensa que vai longe o tempo em que o escambo era a base da economia de muitas sociedades. Sem moeda, é possível que os homens fossem mais felizes...)
Eh, pescador! O peixe não vem de graça – é preciso trabalho, muito trabalho. A grandeza dos homens do mar, porém, continua sendo saber partilhar o pouco que conseguem. E, assim, acontece o milagre dos peixes. Não sacia apenas a fome, mas aproxima as pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário